Ter objetivos de vida é algo tão essencial quanto respirar. Se não os tem, não há motivo para o qual viver, e eles devem ser seus, escolhidos por você, influenciados apenas pelos seus próprios desejos, experiências, vontades e anseios. De mais ninguém, vale salientar. Digo isso por perceber, entre as pessoas, que muitas delas vivem por um escopo, ou mais, que são designados por familiares, amigos, sociedade, dentre outros elementos. Logo, vivem para e por algo de fora e não de dentro, o que é extremamente nocivo a sua própria existência.
Dentro desse contexto, o indivíduo passa a viver como um projeto: um projeto dos pais, dos irmãos, dos amigos e da sociedade. E não para si, por si, por amor próprio. Já questionei muitos em meu redor, (e a mim mesma, óbvio): para que você existe? O que te faz mover adiante?... e triste é ver que essa é uma das perguntas mais difíceis de se responder (depois de "quem sou eu?"). Quando encontram-se respostas, são elas (não apenas, reforço que estou fazendo uma reflexão generalizada):
- "Vivo para agradar os outros, pois só assim, posso ser amado.";
- "Vivo para cuidar dos meus pais, amigos, cachorros, do papagaio, da vizinha, do mundo, essa é minha função - menos de mim mesmo.'';
- ''Vivo para entrar numa faculdade e num curso foda, não sei se eu quero, mas todos falam para eu fazer.'';
- ''Vivo para o trabalho.'';
- ''Vivo para os meus filhos'';
- ''Vivo para fazer o outro feliz'';
- "Não sei porque estou aqui."
Você consegue viver apenas por e para você, e realmente sabe identificar quais desejos vêm de dentro do seu coração, da sua alma, do seu self, e quais você cumpre apenas para ser uma pessoa ideal, perfeita, e ''feliz'' de acordo com padrões e exigências impostas?
Essas são apenas questões reflexivas, tenho a consciência de que é difícil chegar a uma conclusão. Somos seres humanos, cheios de traumas, medos, inseguranças, que nos atrapalham em nossos propósitos. Não obstante, é necessário que olhemos com amor para esse assunto. Pois, quando não vivemos por nós, a vida perde o brilho, e gastamos uma energia tremenda que poderia estar sendo canalizada para coisas mais frutíferas e fazendo da nossa existência mais bela, e mais deliciosa.
É o tempo da travessia. Cada um tem a sua, e cada fase da vida exige um riacho diferente, com obstáculos, troncos, raízes. Com pontes que podem se quebrar a qualquer momento. Com correntezas, tempestades. Há um caminho árduo e de muita batalha, às vezes, para alcançar seus méritos, mas ele pode ser mais prazeroso se juntamente não vier aquele sentimento, aquele peso de: ''se eu não conseguir, alguém vai se decepcionar muito com isso, pois, na verdade, não estou fazendo por mim''.
Com todos os percalços, ainda é necessário chegar do outro lado, pois lá se encontra o que tanto se almeja. O que fazer para atravessar, de onde tirar força para superar cada etapa, para fazer diversas coisas desagradáveis, para passar por estágios insuportáveis? É preciso ter energia, essa que vem do coração, do desejo mais puro da sua alma, e apenas da sua alma. Ela faz você seguir adiante, com foco, determinação e muito amor. Desse modo, o que você quer para sua vida, é conquistado, e não há nada mais maravilhoso que isso no mundo. Você se preenche, e aquele sentimento de vazio que por muito se tentou ocupar com algo supérfluo, se esvai.
Então, passada a travessia, mais a frente há outra, e outra, e outra, e quanto mais travessias, mais objetivos, seus, e de mais ninguém. E a vida se torna linda.
"É o tempo da travessia, e se não ousarmos fazê-la, estaremos, para sempre, à margem de nós mesmos."
F. Pessoa
Imagem: A Ponte Japonesa - Claude Monet - 1899